terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O limite da nossa paciência - por: Por Tita Belliboni

Todo mundo um dia perde a paciência. E, logo depois que isso acontece, a culpa e o remorso tomam conta do nosso coração. Eu prefiro sempre ilustrar com exemplos reais do que fazer grandes discursos carregados de um tom de superioridade. Acredito que tudo pode acontecer com todos nós, “simples mortais”, e, como toda mãe, isso um dia aconteceu comigo também. Formada em pedagogia, trabalhando com crianças diariamente e tida como a rainha da ternura e paciência, um dia eu perdi essa última pela primeira vez. Embora faça muito tempo que esse episódio aconteceu, eu não o esqueci. E aprendi imensamente. Aliás, depois disso, eu perdi a paciência outras vezes... Meus filhos eram muito pequenos, tinham 2 e 3 anos ainda e, num final de dia difícil – problemas no trabalho, meu pai no hospital, cansaço imenso –, eu realmente perdi a paciência elevando a voz. E muito irritada joguei os pratos na pia da cozinha, traduzindo uma irritação que nem meus filhos nem o meu marido conheciam. Não deu outra: os três olhando pra mim com os olhos arregalados, eu me senti um “monstro” e frases como essas rondavam meu pensamento: “Eles não têm nada a ver com meu dia difícil, muito menos têm culpa do meu cansaço. Que imagem vão fazer de mim? Eu não podia ter gritado! Não podia dar esse exemplo! Eu não tinha este direito!” Fui dormir cheia de culpa e de remorso, que foram amenizados no outro dia quando meu marido, muito preocupado, comentou com um grande amigo psiquiatra o que havia acontecido e ele retrucou o seguinte: “Jura? Ela fez isso mesmo? Que bom! Ela é normal!” Eu não queria ser normal! Queria ser o melhor dos exemplos, a melhor das mães. Só que, com isso, eu aprendi e muito! Aprendi que todas nós, mesmo quando nos sentimos leoas, somos frágeis ainda. Que temos que ter cuidado para não sobrecarregar demais nem nossas tarefas nem nossas pretensões. Podemos, sim, perder a paciência, mas temos que tomar cuidado para que não aconteça. Precisamos ser coerentes e prestar muita atenção no cansaço e no nosso limite. É bom que os outros percebam que esse limite existe, que mulher nenhuma no mundo, por mais que pareça, é a heroína perfeita das histórias em quadrinhos. E o que faz com que os outros reconheçam esse limite é a coerência e a constância das regrinhas do dia a dia, de educação e principalmente de respeito. Se o cansaço vencer, quando cedemos por causa dele ou, da mesma forma, não suportamos uma longa insistência da criança, uma briga, birra e má-criação dele, perdemos a linha do limite, confundimos nossos filhos e nos entregamos ao caos. A rotina, a responsabilidade e a falta de tempo e de espaço abrem essa portinha perigosa se não nos cuidarmos e recarregarmos as nossas baterias. Naquela minha noite, descobri que eu podia, sim, ser normal, mas não queria mais que acontecesse. Não era bom para as crianças nem bom para mim, mas confesso que não foi tão ruim assim mostrar que eu também tinha um limite. É imensamente importante no desenvolvimento da personalidade que as crianças saibam que não somos perfeitos, que erramos, que nos desculpamos e tentamos aprender também (claro que não é permitido extrapolar!). Nesse exercício de imperfeição, tiramos deles o peso de corresponderem sendo o máximo, o melhor sempre. Ninguém é. E nós estamos perto para ensinar isso também. É necessário que saibam que perfeito só o nosso amor e que nele cabem o erro, o perdão e a possibilidade de aprender e melhorar sempre!

*Luciana Belliboni, que tem o carinhoso apelido de Tita, é pedagoga de São Paulo e apresentadora da versão brasileira da série Doces Momentos, do canal Discovery Home & Health.
fonte: http://origin.bebe.abril.com.br/colunistas/desenvolvimento/limite-nossa-paciencia.php

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